Durante meses, podemos até dizer durante anos, o mundo olhou com receio para o tsunami de carros elétricos baratos a serem produzidos na China, que por sua vez iriam ser enviados para todo o mundo.
Mas agora, quem está preocupado com a guerra de preços é o próprio governo chinês.
Porquê? A BYD acaba de lançar o Seagull, um elétrico novinho por cerca de 7 mil euros. Parece uma boa notícia para o consumidor? Talvez. Mas para o mercado automóvel e para a economia chinesa, isto pode ser uma bomba-relógio.
Quando o barato começa a sair caro
No final de maio, a BYD, bem como outras fabricantes, reduziu os preços de 22 modelos, num corte tão agressivo que deixou o Ministério da Indústria da China em alerta.
Aliás, numa rara declaração pública, o governo avisou que “não há vencedores na guerra de preços”. A preocupação é clara! Estes valores tão baixos podem comprometer o investimento em segurança, qualidade e inovação, além de colocarem em risco a reputação do famoso selo made in China. Que já teve muita má fama, e que nos dias que correm, já tem um significado muito diferente.
Um dos maiores nomes da Great Wall Motor já disse que a “Evergrande dos carros” já existe, só ainda não rebentou.
Um mercado saturado (e descontrolado)
Atualmente, existem mais de 100 marcas chinesas de carros elétricos. Muitas delas já estão na Europa.
Aliás, já há quem diga que são demasiadas marcas Chinesas a entrar no nosso mercado.
Agora imagine na China… Aliás, poucas são rentáveis. Além disso, quase todas estão a cortar preços para não perder quota de mercado, mesmo que isso signifique operar no prejuízo. Resultado? Uma espiral descendente. A BYD até pode estar melhor posicionada graças ao controlo total da sua cadeia de produção, mas mesmo assim viu as suas ações caírem após os cortes de preço.
O problema é que, para aguentar esta pressão, muitas fornecedoras vão ser obrigadas a baixar os seus próprios preços. O que leva a despedimentos, cortes salariais e menor consumo interno. Tudo isto numa altura em que o governo chinês está desesperado por dinamizar a procura doméstica, já de si abalada pela guerra comercial com os EUA.
Exportar para sobreviver
Com o mercado interno em queda, a China está a virar-se para fora.
Caso não saiba, até 2030, metade dos carros produzidos no país deverão ser exportados, com foco na Europa e América Latina. A BYD, por exemplo, já ultrapassou a Tesla em vendas de elétricos na Europa durante o mês de abril, mesmo com o aumento das tarifas aduaneiras por parte da União Europeia.
Ou seja, por muito que esta guerra de preços pareça um problema interno, as suas consequências vão espalhar-se pelo mundo. Carros elétricos cada vez mais baratos podem parecer uma bênção para o consumidor europeu, mas colocam uma pressão brutal sobre as marcas ocidentais.
E muita da economia Europeia depende da produção automóvel.
Precisamos dos nossos leitores. Segue a Leak no Google Notícias e no MSN Portugal. Temos uma nova comunidade no WhatsApp à tua espera. Podes também receber as notícias do teu e-mail. Carrega aqui para te registares É grátis!