A eletrificação chegou, e apesar de alguns contratempos, a realidade é que veio para ficar. Esta é a grande aposta de todas as fabricantes, e claro, na Europa, existem datas limites para o salto.
Porém, embora se pinte de verde e promessas sustentáveis, também é uma mudança que carrega consigo um peso difícil de engoli. O fim anunciado de alguns dos maiores ícones da estrada. Sim, é verdade que temos de olhar para o planeta, que temos de repensar o nosso futuro.
Carros – É uma pena que esta alma morra assim!
Mas, a verdade é… não dá para ignorar o paradoxo.
É difícil ver o motor de combustão desaparecer quando continuam a levantar voo milhares de aviões todos os dias, quando os navios continuam a atravessar oceanos sem grandes restrições, e quando os camiões diesel ainda fazem o mundo girar, numa escala que poucos querem admitir. Pois bem, no meio de tudo isto, são os carros como o Alpine A110 que pagam a fatura.
Um automóvel que eu já tinha assumido que nunca iria conduzir, porque cheguei ao mundo dos testes automóvel “demasiado tarde”. Mas… Ontem o jogou mudou! Conduzi finalmente um Alpine A110 GTS, num evento da marca no Porto, e… É de facto uma pena que este rugido, esta adrenalina, desapareça num turbilhão de eletrões.
Foi, com toda a honestidade, uma experiência que me deixou de alma cheia. Não há outra forma de o dizer. Foi entusiasmo puro, genuíno, quase infantil. Aquela sensação rara de estar em algo feito por pessoas que amam aquilo que fazem.
Os carros elétricos são bons. Em muitos casos, até são brilhantes. Mas falta-lhes qualquer coisa. Falta-lhes alma. Falta-lhes aquela ligação entre o som do motor, o toque da caixa, o cheiro a combustível e a forma como tudo isso mexe connosco. Não é racional, é visceral.
O A110 é mais do que um carro.
Pode não ser dos automóveis mais conhecidos do mercado. Mas, é uma carta de amor ao prazer de conduzir. Um daqueles projetos que nos lembram por que razão começámos a gostar de automóveis em primeiro lugar. E é por isso que custa tanto vê-lo partir.
Sim, o futuro tem de ser sustentável. Mas não tem de ser frio. E é por isso que dói ver esta alma a morrer assim.
Nota:
- As coisas estão a mudar, e os prazos da indústria ainda não são os mesmos. Ainda existe espaço para a combustão. Talvez não como ela existe agora. Mas existe espaço, e espero que este seja muito bem aproveitado.