O bullying já não acaba na escola agora persegue-te até casa

Durante anos, o bullying era um pesadelo que ficava à porta da escola. As provocações no recreio, as piadas cruéis nos corredores, os insultos escritos nos cacifos tudo parava quando tocava para a saída. Em casa, havia refúgio. Mas essa fronteira desapareceu. Hoje, com a Internet, o bullying não tem muros, horários nem vigilantes e nem acaba na escola. Ele entra connosco no autocarro, senta-se à mesa durante o jantar e, muitas vezes, deita-se connosco à noite, dentro do ecrã do telemóvel. Ainda tenho filhos muito pequenos mas temo por eles e até por todos os outros que infelizmente já passaram por tanto.

Quando a violência viaja no bolso

Entretanto o que antes se limitava à escola transformou-se num fenómeno muito mais invasivo: o cyberbullying. Grupos de WhatsApp, mensagens no Instagram, vídeos humilhantes no TikTok, memes e comentários anónimos as formas multiplicaram-se, e a crueldade ganhou palco global.

Hoje, uma simples piada de mau gosto pode chegar a centenas ou milhares de pessoas em segundos. E o que é pior: fica online para sempre. Não há intervalo, não há descanso, não há “amanhã é outro dia”. O bullying digital é persistente e silencioso e, para quem o sofre, torna-se uma sombra que nunca desliga.

As novas feridas: invisíveis, mas reais

Os números são alarmantes. Estudos recentes indicam que 1 em cada 3 jovens portugueses já foi vítima de bullying online. E as consequências são devastadoras: ansiedade, depressão, insónias, isolamento e, nos casos mais graves, pensamentos suicidas.

A dor emocional é tão real quanto uma agressão física. Mas, por ser invisível, é muitas vezes ignorada por pais, professores e até amigos. O ecrã torna-se um escudo para quem agride e uma prisão para quem é alvo.

O problema não está nas redes está em nós

Não é o WhatsApp que magoa.
Não é o TikTok que humilha.
São as pessoas que usam estas ferramentas para espalhar ódio, inveja ou frustração.

A tecnologia não criou o bullying ampliou-o. E o silêncio de quem assiste sem intervir é o combustível que o faz crescer.

Precisamos de falar disto com urgência porque o Bullying não acaba na escola

  • Precisamos de ensinar empatia digital: o respeito que também deve existir através de um ecrã.
  • Ensinar que rir de um meme ofensivo é o mesmo que rir da dor de alguém.
  • Ensinar que partilhar uma foto humilhante é tornar-se cúmplice de violência.

O papel dos pais e das escolas

Os pais já não podem proteger os filhos apenas desligando a televisão ou perguntando “como foi o dia na escola?”. É preciso perguntar também:
– “Como está o grupo do WhatsApp da turma?”
– “Alguém te fez sentir mal nas redes?”
– “Sentes-te bem com o que partilham sobre ti?”

E as escolas precisam de olhar para o bullying como um problema de comunidade, não apenas de disciplina. Programas de sensibilização, acompanhamento psicológico e campanhas de respeito digital são tão importantes quanto as aulas de matemática.

Um clique pode mudar tudo

Hoje assinala-se o Dia Mundial de Combate ao Bullying. Mas este combate não se trava apenas uma vez por ano. Trava-se todos os dias quando escolhemos não partilhar, não rir, não ignorar. Trava-se quando decidimos defender quem é alvo e falar quando vemos injustiça.

Porque o bullying moderno não se apaga com um botão mas pode ser travado com empatia.

Dizer “não” ao bullying é dizer “sim” à dignidade e à humanidade. Hoje, e todos os dias.

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Bruno Fonseca
Bruno Fonseca
Fundador da Leak, estreou-se no online em 1999 quando criou a CDRW.co.pt. Deu os primeiros passos no mundo da tecnologia com o Spectrum 48K e nunca mais largou os computadores. É viciado em telemóveis, tablets e gadgets.

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