Atenção: a tua impressora está a denunciar-te sem que saibas

Quando olhas para uma folha impressa vês apenas o texto ou a imagem que pediste. Mas há algo mais lá escondido: milhares de pontos amarelos microscópicos que os teus olhos não detetam, mas que podem revelar exatamente qual foi a impressora usada, em que dia e até a que horas. E não, isto não é teoria da conspiração. É um facto confirmado por organizações de privacidade, investigadores independentes e até reconhecido por fabricantes.

O segredo mal guardado das impressoras

Desde os anos 90 que alguns fabricantes de impressoras introduzem um sistema de microdots (também chamados de tracking dots). São pequenos pontos amarelos, quase invisíveis, dispostos em padrões que funcionam como uma espécie de “código secreto” gravado em cada folha.

Cada combinação indica o número de série da impressora, a data e a hora em que o documento foi impresso. À vista desarmada, ninguém percebe. Mas com uma simples lupa azul ou usando um software de análise de imagem, a informação salta à vista.

Por que razão isto existe?

Segundo os fabricantes, a ideia surgiu como medida de segurança contra falsificação. Bancos centrais e autoridades estavam preocupados com a reprodução ilegal de notas e documentos oficiais, e este sistema ajudava a rastrear impressoras usadas para esse tipo de crime.

Na prática, acabou por ser um mecanismo silencioso de vigilância — implementado sem que a maior parte dos consumidores soubesse.

Casos reais de rastreamento

Em 2017, a norte-americana Reality Winner foi detida após enviar documentos secretos à imprensa. Como se descobriu isto? A folha que imprimiu tinha os tais pontos amarelos, que revelaram qual impressora tinha sido usada.

E este não foi caso único: jornalistas, ativistas e até funcionários de empresas já foram rastreados devido a estes códigos invisíveis.

O problema da privacidade

O grande debate é simples: os consumidores nunca souberam. Compramos impressoras acreditando que imprimem o que pedimos e só isso. Descobrir que cada folha pode funcionar como “GPS de papel” levanta questões sérias:

  • Quem tem acesso a essa informação?
  • É legal guardar e usar este rasto sem consentimento?
  • O que impede governos ou empresas de usar este truque para vigiar jornalistas, ativistas ou simples cidadãos?
  • Dá para desligar?

Oficialmente, não há opção para desativar os pontos amarelos na maioria das impressoras. Alguns fabricantes nem sequer admitem publicamente que os usam. Há projetos académicos que tentaram mapear modelos que imprimem microdots, mas é um trabalho em constante atualização.

fabricantes não querem que utilize tinteiros compatíveis. porquê?

Ou seja: na prática, se tens uma impressora a laser a cores, é provável que estejas a deixar “pistas invisíveis” em cada folha.

O que podes fazer na prática

Não há soluções mágicas, mas alguns cuidados ajudam:

  • Usar impressoras monocromáticas: geralmente não usam microdots.
  • Consultar listas independentes: organizações como a EFF (Electronic Frontier Foundation) investigam e publicam resultados de modelos com e sem rastreio.
  • Sensibilizar empresas: se trabalhas numa organização, alerta para o risco de confidencialidade de documentos.
  • Pressionar fabricantes: pedir transparência sobre as funcionalidades escondidas.

Sempre acreditámos que o papel guardava segredos. Mas afinal, é o próprio papel que pode revelar quem o imprimiu. Se até a tua impressora esconde truques invisíveis, o que mais andará a vigiar-nos sem sabermos?

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Bruno Fonseca
Bruno Fonseca
Fundador da Leak, estreou-se no online em 1999 quando criou a CDRW.co.pt. Deu os primeiros passos no mundo da tecnologia com o Spectrum 48K e nunca mais largou os computadores. É viciado em telemóveis, tablets e gadgets.

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