É uma das primeiras regras não escritas que aprendemos assim que tiramos a carta: “tens de acompanhar o ritmo do trânsito”. E faz todo o sentido, certo? Imagina que estás numa estrada onde o limite é 90 km/h, mas a “coleção de humanidade” à tua volta decidiu que 110 km/h é a velocidade adequada. Se fores o único a cumprir a lei, vais tornar-te num obstáculo. Vais obrigar toda a gente a travar, a ultrapassar e, sejamos honestos, vais irritar muita gente. A lógica diz-nos que é mais seguro conduzir à mesma velocidade que todos os outros para evitar conflitos. Mas tenho más notícias: essa lógica, por muito sedutora que seja, está errada.
O argumento do “Bom Senso” vs. A Lei
O argumento a favor de acompanhar o fluxo é forte: conduzir demasiado devagar é perigoso. Obriga os outros condutores a manobras bruscas e pode despertar a famosa “road rage” (fúria na estrada), que nunca acaba bem. Por isso, deduzimos que, como condutores responsáveis, não devemos “empatar”.

Mas aqui entra o balde de água fria: conduzir a qualquer velocidade acima do limite estipulado é ilegal. O argumento “mas Sr. Agente, toda a gente ia a 140 km/h” não tem qualquer validade jurídica. Aos olhos da lei, não interessa o que a manada está a fazer.
A Estatística que não perdoa
Além da questão legal, há a questão física. O excesso de velocidade é responsável por cerca de 25% de todos os acidentes mortais. É um número assustador para algo que é 100% evitável. Aumentar a velocidade para acompanhar o fluxo reduz o teu tempo de reação e aumenta a distância de travagem, independentemente de estares “acompanhado” por outros carros ou não.
“Se o árbitro não apita…”
Claro que há uma diferença entre a letra da lei e a fiscalização. Existe uma grande dose de discrição por parte das autoridades (PSP/GNR). Ninguém te vai (em princípio) passar uma multa por ires a 91 km/h numa zona de 90. Tal como ir ao supermercado: na viagem curta, provavelmente cometes várias infrações menores (não parar completamente num STOP, esquecer o pisca) e ninguém te diz nada.
Lembra a velha máxima desportiva: “não é falta se o árbitro não apitar”. Podes safar-te muitas vezes a seguir o fluxo do trânsito acima do limite legal. Podes passar anos sem uma multa. Mas isso não significa que devas tentar o destino.
No final do dia, a responsabilidade é individual.
Acompanhar o fluxo acima do limite continua a ser uma infração.
A “segurança” de ir rápido com os outros é uma ilusão estatística; a física do embate não muda porque vão todos depressa.

A multa é tua: Se passarem todos por um radar, a carta que chega a casa é para ti, não é para o “fluxo de trânsito”.
Portanto, da próxima vez que te sentires pressionado a acelerar porque “todos o fazem”, lembra-te: a tua segurança e a tua carteira são mais importantes que a impaciência do condutor atrás de ti.

