Já te aconteceu estares numa reunião, no comboio ou até no sofá de casa… e não conseguires concentrar-te porque alguém está a abanar o pé sem parar, a abanar a caneta ou a roer as unhas? Ficas tenso. Irritado. Quase a explodir. Mas o mais estranho? É só um movimento pequeno. Então porque é que incomoda tanto? A resposta está num fenómeno pouco conhecido chamado misocinesia. Segundo um estudo recente, afeta 1 em cada 3 pessoas. Sim, é muito mais comum do que se pensava.
Não aguentas ver alguém a abanar o pé? A ciência explica porquê
“Odeio quando fazem isto com o pé”: não és só tu
Misocinesia significa, literalmente, “ódio ao movimento”. E não, não estamos a falar de dançar ou correr. Estamos a falar daqueles movimentos repetitivos e nervosos que alguém faz quando está inquieto: abanar o joelho, estalar os dedos, mexer nos óculos, balançar a cadeira…
Segundo uma investigação da Universidade da Colúmbia Britânica, estas ações aparentemente inofensivas ativam um stress real em quem sofre de misocinesia.
O que os investigadores descobriram (e porque devias ligar a isto)
O estudo envolveu mais de 4.100 participantes, desde estudantes universitários até pessoas da população em geral. Resultados? Um terço admitiu sentir algum grau de desconforto ao ver alguém a mexer-se constantemente.
E mais: essas pessoas não só ficam irritadas. Assim também relatam ansiedade, frustração, perda de concentração e vontade de se afastar de situações sociais. Sim, há quem evite jantares, reuniões ou transportes públicos por causa disto.
Mas afinal… o que se passa no cérebro?
Uma das hipóteses mais curiosas aponta para os neurónios-espelho. Esses neurónios disparam quando fazemos um movimento… mas também quando vemos outra pessoa a fazê-lo.
Ou seja: se alguém abana a perna porque está ansioso, o teu cérebro pode espelhar esse nervosismo, mesmo que tu estejas tranquilo. Resultado? Começas a sentir-te ansioso também.
É como um contágio silencioso mas só tu o sentes.
Não confundir com misofonia
Se já ouviste falar de misofonia (irritação com sons repetitivos, como mastigar ou clicar com a caneta), a misocinesia é uma “prima” próxima mas visual. Enquanto uma te irrita pelo som, a outra ataca pelos olhos.
Curiosamente, há pessoas que têm as duas. Mas também há quem sofra só de uma delas.
O lado invisível da misocinesia
Este fenómeno tem um lado cruel: como os movimentos são “inofensivos” e os outros não os veem como irritantes, quem sofre de misocinesia sente-se sozinho. Pior: muitas vezes é acusado de ser “picuinhas”, “intolerante” ou “mal-humorado”.
Mas agora a ciência valida aquilo que muitos já sentem há anos: é real, é comum, e pode ter impacto sério na vida social e emocional de quem sofre com isso.
E há cura?
Ainda não há um tratamento específico. Mas só o reconhecimento do fenómeno já é um passo gigante.
Algumas estratégias que podem ajudar:
- Usar fones de ouvido ou óculos escuros em ambientes públicos (para bloquear estímulos).
- Mudar de lugar discretamente em salas ou cafés.
- Técnicas de respiração e mindfulness.
- Em casos mais intensos, terapia cognitivo-comportamental.
Misocinesia é mais comum do que imaginas. E talvez o primeiro passo para lidar com ela… seja finalmente falar sobre isso.