Mais barata e rápida: Carta de condução só para Carros Elétricos?

Já imaginaste tirar a carta de condução em menos tempo, pagar menos por isso, mas ficares legalmente limitado a conduzir apenas carros elétricos? Esta é a proposta que está a agitar o setor automóvel em França e que levanta uma questão pertinente para o futuro da mobilidade: será que os elétricos precisam de uma categoria própria? A Union Française de l’électricité (UFE) avançou com uma ideia que promete polémica: criar uma licença de condução dedicada exclusivamente a veículos elétricos. O objetivo? Acelerar a transição energética e tornar o acesso à condução mais acessível aos jovens.

A promessa: Menos horas, menos euros

A lógica da UFE é simples: conduzir um carro elétrico é tecnicamente mais fácil do que um carro com caixa manual. Não há ponto de embraiagem para gerir, nem mudanças para passar.

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Por isso, a proposta sugere que esta formação seja mais curta. Em vez das habituais 20 horas de prática (o padrão para o “permis B” clássico em França), esta nova carta exigiria apenas 13 horas, tal como já acontece para a carta de caixa automática.

Os argumentos a favor:

Custo reduzido: Menos horas de aulas e veículos de instrução com manutenção mais barata (elétricos) resultariam numa fatura final mais leve para o aluno (atualmente, em França, a carta custa em média mais de 1800€).

Formação específica: O curso incluiria módulos que hoje são ignorados, como a gestão da autonomia, a “eco-condução” (aproveitar a regeneração) e o funcionamento dos carregamentos.

A polémica: “Para quê complicar?”

Entretanto como seria de esperar, as escolas de condução não estão propriamente a saltar de alegria. Assim a crítica é feroz: já existe a carta para caixa automática.

Marie Martinez, vice-presidente de uma associação de autoescolas em França, foi direta: “A ideia não é boa. Não precisamos de simplificar nada. Uma carta para elétricos é a carta de caixa automática que já existe há anos, com a qual podes conduzir tanto um elétrico como um térmico automático.”

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O receio é fragmentar ainda mais o sistema e criar condutores que ficam “presos” a uma tecnologia, num mundo onde os carros a combustão ainda dominam as estradas.

A grande questão: Faz sentido uma Carta de condução só para Carros Elétricos?

Agora, respondendo diretamente à tua pergunta: Na prática, faz sentido criar esta distinção?

A resposta curta é: Provavelmente não como uma categoria legal nova, mas sim como uma especialização. Vamos analisar os dois lados da moeda.

1. Por que NÃO faz sentido (A redundância)

A mecânica de condução de um elétrico é, para todos os efeitos, igual à de um carro a combustão com caixa automática. A carta de condução serve para atestar que sabes controlar o veículo e conheces o código da estrada.

Se tirares a carta em caixa automática (que já existe em Portugal e em quase toda a Europa), já estás apto a conduzir um Tesla, um Zoe ou um Mercedes a gasóleo automático.

Criar uma categoria “Só Elétricos” seria burocracia desnecessária. Se o carro ficar sem bateria e tiveres de conduzir o carro automático de um amigo a gasolina, estarias ilegal? Isso parece contraproducente.

2. Por que FAZ sentido (A especificidade técnica)

Embora a condução “básica” (acelerar e travar) seja igual, a filosofia de utilização é diferente. Quem conduz um elétrico pela primeira vez confronta-se com desafios que a escola de condução tradicional não ensina:

Travagem Regenerativa: Aprender a conduzir com “um pedal” (o carro trava sozinho ao largar o acelerador) requer habituação.

Planeamento e Carregamento: Saber a diferença entre kW e kWh, entender curvas de carregamento e planear viagens longas é vital num elétrico e irrelevante num térmico.

Torque Instantâneo: A aceleração de um elétrico é imediata, o que pode surpreender condutores inexperientes em situações de trânsito ou piso molhado.

Criar uma “carta nova” parece um exagero legislativo. A solução mais sensata seria atualizar a carta de condução de caixa automática para incluir obrigatoriamente módulos sobre mobilidade elétrica.

O carro elétrico não é um “bicho” diferente o suficiente para merecer uma carta própria, mas é diferente o suficiente para que as escolas de condução deixem de fingir que ele se conduz exatamente como um carro a gasóleo de 2010.

E tu, trocavas a possibilidade de conduzir qualquer carro por uma carta mais barata e rápida, exclusiva para elétricos?

Bruno Fonseca
Bruno Fonseca
Fundador da Leak, estreou-se no online em 1999 quando criou a CDRW.co.pt. Deu os primeiros passos no mundo da tecnologia com o Spectrum 48K e nunca mais largou os computadores. É viciado em telemóveis, tablets e gadgets.

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