Samsung Galaxy Z TriFold: mais hype do que necessidade

O Samsung Galaxy Z TriFold já é oficial e, se dependesse apenas das redes sociais, parecia que o futuro dos smartphones tinha acabado de aterrar. A ideia é simples de explicar e brutal de mostrar: um único dispositivo que dobra em três, passa de telemóvel “normal” a tablet de 10” e ainda promete substituir o portátil em muita coisa. Só que, quando se olha com calma para o preço, o mercado e os compromissos, percebe-se rapidamente: isto é mais montra de tecnologia e hype do que verdadeira necessidade para a maioria dos utilizadores.

O que é que o Samsung Galaxy Z TriFold traz de especial?

A Samsung vende o TriFold como o seu “telefone mais versátil de sempre”:

  • Ecrã exterior de 6,5” para uso diário;
  • Dois eixos de dobra que desdobram um painel interno de cerca de 10 polegadas, quase um tablet;
  • Painel Dynamic AMOLED 2X com 120 Hz, brilho elevado e tudo o que se espera de um topo de gama moderno;
  • Snapdragon 8 Elite, 16 GB de RAM e a maior bateria alguma vez usada num dobrável da Samsung, distribuída pelos três segmentos.

Na teoria, é o dispositivo perfeito para multitasking: várias apps abertas ao mesmo tempo, barra de tarefas, Samsung DeX a funcionar sem monitor externo e a sensação de ter um mini-PC no bolso.

Parece tudo incrível… até olharmos para o resto.

Preço de nave espacial, público de nicho

Na Coreia do Sul, o Galaxy Z TriFold começa nos 3,59 milhões de won, algo como 2 400–2 500 dólares para a versão de 512 GB.

Tradução para o utilizador comum: com o dinheiro de um TriFold compras um bom portátil + um flagship Android ou iPhone, e ainda sobra qualquer coisa.

Não é por acaso que analistas internacionais e a própria comunicação de Samsung o tratam quase como produto de nicho, mais para entusiastas e “early adopters” do que para o grande público. A Reuters fala especificamente num dispositivo feito para testar o apetite do mercado e reforçar a imagem de inovação, não para vender milhões de unidades.

O mercado continua a dizer “calma lá com os dobráveis”

Mesmo antes do TriFold, os números dos dobráveis já mostravam a realidade: muito barulho, pouca quota.

Em 2024, os dobráveis representam apenas cerca de 1,5% do mercado global de smartphones. A projeção para 2028 aponta para uns 4–5%, o que continua a ser uma fatia pequena do bolo.

Dentro destes 1,5%, o TriFold é ainda mais extremo: caríssimo, complexo de produzir, disponível primeiro em poucos mercados e pensado como showcase de engenharia.

Ou seja: é mais provável veres o aparelho em vídeos de YouTube e TikTok do que na mão de alguém no metro.

Os “mas” que ninguém gosta de referir na publicidade

Tecnicamente, o TriFold é fascinante, mas vem carregado de compromissos:

Espessura e peso. Aberto, é super fino (cerca de 3,9 mm), mas fechado chega aos 12,9 mm e passa bem dos 300 g. Não é propriamente aquele telemóvel que esqueces no bolso.

Duas dobradiças = mais pontos de falha. A Samsung reforçou os materiais das dobradiças e fala em grande durabilidade, mas estamos a falar de um primeiro modelo comercial com dois eixos de dobra. O histórico dos dobráveis mostra que riscos, pó e reparações caras continuam a ser um tema sensível.

IP48, água sim… pó nem por isso. Tal como outros dobráveis da marca, o TriFold tem resistência à água, mas não ao pó. Num dispositivo com três painéis flexíveis, isto não é detalhe.

Software ainda a tentar acompanhar o hardware. A Samsung fez um bom trabalho em DeX e multi-janela, mas o ecossistema Android em geral ainda pensa em “um retângulo, um ecrã”. Nem todas as apps sabem lidar bem com um painel que abre, fecha, muda de proporções e mostra 2 ou 3 janelas ao mesmo tempo.

Resultado: o gadget é incrível para demonstrar em palco… mas na vida real vais sentir que estás sempre a adaptar-te ao aparelho, e não o contrário.

Então, isto é o futuro ou é só fogo de artifício?

A resposta honesta é: um bocadinho dos dois.

É o futuro, porque mostra até onde o hardware consegue ir: um único dispositivo que faz de smartphone, tablet e quase portátil, com IA, DeX e multitasking a sério.

Mas, em 2025/2026, é sobretudo hype caro: o preço é absurdo, a durabilidade ainda levanta dúvidas, o mercado de dobráveis continua minúsculo e um bom flagship clássico continua a resolver 99% dos casos com menos stress.

Se és leitor da Leak e estás a pensar “será que isto faz sentido para mim?” a resposta, com toda a sinceridade, é:

Só se tu fores o tipo de pessoa que compra tecnologia primeiro e arranja desculpas depois.

Para o utilizador normal, o TriFold é aquele gadget que adoramos ver nos leaks, nos unboxings e nas thumbnails, mas que não precisamos mesmo de trazer para casa.

Quando o preço baixar, a concorrência estabilizar (Huawei já tem tri-fold no mercado, a Apple anda a rondar o segmento…) e os dobráveis passarem de curiosidade para hábito, aí sim podemos voltar a falar de “necessidade”.

Até lá, o Galaxy Z TriFold continua a ser aquilo que parece: um futuro dobrado em três… mas ainda muito mais hype do que realidade.

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Bruno Fonseca
Bruno Fonseca
Fundador da Leak, estreou-se no online em 1999 quando criou a CDRW.co.pt. Deu os primeiros passos no mundo da tecnologia com o Spectrum 48K e nunca mais largou os computadores. É viciado em telemóveis, tablets e gadgets.

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