Imagina este cenário: anuncias um telemóvel no OLX, uma consola no Marketplace ou umas sapatilhas no Vinted. Em poucos minutos, aparece o “comprador perfeito”: educado, decidido, nem regateia muito. Diz que faz já a transferência e que te envia o comprovativo. Passados 5 minutos, zás: chega ao teu WhatsApp um PDF impecável, com logótipo do banco, valor certo, IBAN certo e a tua conta como destinatária. Só há um pequeno problema: a transferência nunca aconteceu. O comprovativo é falso e se te descuidas, ficas sem produto e sem dinheiro. Na prática é isto que acontece na burla dos comprovativos.

Como funciona a burla dos comprovativos

Os burlões sabem que muita gente ainda vive com a ideia de que “se há comprovativo, está pago”. Por isso, montam o esquema à volta dessa confiança.

O padrão é quase sempre o mesmo: negócio rápido, muita pressa em concluir, e uma “prova” enviada logo a seguir. Pode ser um:

• PDF com aspeto oficial
• captura de ecrã da alegada app do banco
• email encaminhado com um “Comprovativo de transferência”
• até SMS “do banco” forjados ou editados

Alguns chegam ao ponto de usar dados reais de bancos (logótipos, fontes, cores) e referências aparentemente credíveis. Por fora, parece tudo legítimo. Por dentro, é só design e Photoshop.

O objetivo é simples: fazer-te acreditar que o dinheiro já está a caminho para te convencer a enviar o produto imediatamente, seja pelo correio, transportadora ou até entregar em mão “porque já está pago”.

Um PDF não é dinheiro: porque o comprovativo não prova nada

Esta é a frase que vale ouro: um comprovativo não é dinheiro. Papéis, PDFs, prints e emails podem ser inventados, editados, truncados, reutilizados de operações antigas. O que conta não é o que o comprador te mostra. É o que o teu banco diz.

Além disso, mesmo quando a transferência é verdadeira, há situações em que o dinheiro aparece como “em processamento” ou “pendente” sobretudo entre bancos diferentes ou em operações feitas fora de horas. Os burlões aproveitam esta confusão para te pressionar: “Já fiz, o problema é do banco”, “só aparece amanhã, mas já saiu da minha conta”.

Se não vês o valor creditado na tua conta, com saldo atualizado, é como se não existisse.

Como validar se a transferência aconteceu mesmo

Quando alguém te envia um comprovativo, o único passo seguro é este: entra na tua conta bancária, por app ou homebanking, e confirma tu mesmo.

Não confies em links enviados pelo suposto comprador. Abre a app do teu banco como fazes sempre, ou entra no site oficial escrevendo o endereço à mão. Depois:

Verifica o saldo disponível.

Consulta os movimentos mais recentes e vê se o valor aparece como crédito efetivo, não apenas “lançamento futuro” ou “agendado”.

Confere o descritivo da operação: data, montante e, se existir, o nome do remetente.

Se não houver registo nenhum, não há venda.

Se aparecer apenas “agendado para amanhã” ou semelhante, tu decides se queres esperar até o dinheiro estar mesmo na conta. Seguros, seguros, só quando o dinheiro já entrou.

Boas práticas para vendas em OLX, Vinted, Marketplace e afins

Há algumas regras simples que reduzem brutalmente o risco:

Nunca envies o produto só porque te mostraram um comprovativo. O único sinal verde é o crédito na tua conta, visto por ti. Mais nada.

Evita misturar apps de mensagens com “provas de pagamento”. WhatsApp, Messenger ou SMS não são canais oficiais de bancos. Tudo o que lá chega pode ser manipulado.

Para valores altos, prefere métodos mais protegidos. Pagamento no ato da entrega em mão, MB Way com o dinheiro a cair logo, ou plataformas que seguram o pagamento até confirmarem a receção.

Desconfia de pressas e histórias dramáticas. “É para o filho”, “é urgente”, “tenho o carro à espera”, “faço já transferência, mas preciso que envies hoje”. A pressa é amiga da burla, não da segurança.

Se algo te parecer estranho, recua. Um comprador legítimo percebe quando dizes: “Envio assim que o dinheiro estiver na minha conta”. Quem insiste demasiado em fazer tudo “já” e só com base em comprovativo é um sinal vermelho.