Trabalho a mais provoca AVC? O aviso que o caso de Nuno Markl nos deixa

Quando soubemos que o Nuno Markl tinha sofrido um AVC, o país inteiro levou um murro no estômago. Não só porque gostamos dele, mas porque ele é a imagem perfeita do adulto que está sempre “on”: rádio, televisão, espetáculos, livros, redes sociais, projetos e mais projetos. E a primeira mensagem que deixou do hospital foi um soco de realidade: “não somos super-homens… por muito que se amem as 789675 coisas que fazemos, elas podem dar cabo de nós”. Este artigo não é sobre o caso clínico específico do Markl, isso é assunto  para os médicos. É, sim, sobre a pergunta que ficou a ecoar: afinal, trabalho a mais provoca AVC?

O que é um AVC (em português claro)?

Um AVC, acidente vascular cerebral, acontece quando o cérebro deixa de receber sangue como deve ser. Ou porque um vaso fica entupido (AVC isquémico, o mais frequente) ou porque rompe e sangra (AVC hemorrágico). Em segundos, as células começam a morrer.

pais divorciados, quem tem este tipo de sangue corre mais riscos de avc!

Os fatores de risco mais conhecidos são:

  • Pressão arterial alta,
  • colesterol elevado,
  • diabetes,
  • tabaco,
  • sedentarismo,
  • obesidade,
  • idade, historial familiar, entre outros.

E onde entra o trabalho nisto tudo?

Longas horas de trabalho e AVC: o que a ciência já sabe

A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Internacional do Trabalho analisaram anos de estudos e concluíram que quem trabalha 55 ou mais horas por semana tem: 35% mais risco de sofrer um AVC e 17% mais risco de morrer de doença cardíaca isquémica, quando comparado com quem trabalha 35–40 horas semanais.

Ou seja: não é só “sensação”. Trabalhar demais está oficialmente na lista dos grandes fatores de risco ligados a AVC e problemas de coração.

Há ainda revisões recentes sobre risco ocupacional que apontam para a mesma direção: longas horas, stress crónico, trabalho sedentário, estão associados a maior probabilidade de AVC, especialmente AVC isquémico.

Em países como o Japão, já existe até um nome para isto: karoshi, literalmente “morte por excesso de trabalho”, muitas vezes por AVC ou ataque cardíaco em pessoas relativamente jovens.

ciência revelou: um coração partido pode mesmo ser fatal!

Como é que o “trabalho a mais” mexe com o cérebro e o coração?

Não é que um dia extra de trabalho te “dê” um AVC. O problema é o pacote completo:

Stress crónico e hormonas no limite

Quando vives meses ou anos sempre em modo “prazo, projeto, direto, reunião, evento”, o corpo liberta de forma contínua hormonas de stress (como cortisol e adrenalina). Isso faz subir a pressão arterial, aumenta a inflamação no organismo e pode favorecer a formação de placas e coágulos nos vasos sanguíneos.

Sono fraco, decisões péssimas

Longas horas de trabalho = menos horas de sono, pior qualidade de descanso, mais cafeína, muitas vezes mais álcool “para desligar”. Fica tudo alinhado para descompensar pressão arterial, peso, açúcar no sangue – todos eles amigos do AVC.

Vida colada à cadeira

Muito trabalho intelectual costuma significar muito tempo sentado. Pouco movimento, alimentação às pressas, fast food, snacks, litros de café. Mais uma vez: peso a subir, colesterol a subir, tensão a subir.

O cérebro a arder em modo multitarefa

Estudos recentes mostram que trabalhar semanas a fio com mais de 50 horas pode até alterar zonas do cérebro ligadas à atenção e à regulação emocional, com fadiga, irritabilidade e decisões piores – inclusive em relação à saúde.

Tudo isto não garante que alguém vai ter um AVC. Mas aumenta a probabilidade, sobretudo se já houver outros fatores de risco a marinar em silêncio.

“Não somos super-heróis”: o que podemos aprender com o susto

Quando alguém como o Nuno Markl, que associamos a bom humor e criatividade, aparece deitado numa cama de hospital a dizer “não somos super-homens… as coisas que fazemos podem dar cabo de nós” fica impossível continuar a vender a ideia de que estar sempre ocupado é motivo de orgulho.

Algumas ideias práticas (que não substituem o médico, mas ajudam a pôr travões):

  • Conta as horas: se andas sistematicamente acima das 50–55 horas semanais, isso não é “fase puxada”, é risco de saúde.
  • Marca consultas como se fossem reuniões: check-up anual, tensão arterial medida com regularidade, análises de sangue.
  • Dorme como se fosse trabalho pago: 6 horas por noite não chegam a médio prazo.
  • Move o corpo todos os dias: não precisa de ginásio hardcore; caminhar 30 minutos já faz diferença brutal para o coração.
  • Aprende a dizer “não”: cada projeto extra é tempo roubado ao descanso, à família e ao futuro da tua saúde.

Nova IA descobre problemas cardíacos e risco de quedas, já viu o que o telemóvel está a fazer ao seu coração? (não é bom)

Sinais de AVC: aqui não se “acaba só este e-mail”

Independentemente do ritmo de trabalho, há uma regra de ouro: perante sinais de AVC, não se é “forte”, liga-se 112.

Procura ajuda imediata se surgir, de repente: fraqueza num lado do corpo, boca ao lado, dificuldade em falar ou articular palavras, alterações de visão, dor de cabeça muito intensa e diferente do habitual.

Entretanto num país onde se normaliza ter “mil trabalhos” e responder a e-mails à meia-noite, talvez esteja na hora de roubar uma última punchline ao Markl: se não abrandarmos, um dia o cérebro é que morde o cão.

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Bruno Fonseca
Bruno Fonseca
Fundador da Leak, estreou-se no online em 1999 quando criou a CDRW.co.pt. Deu os primeiros passos no mundo da tecnologia com o Spectrum 48K e nunca mais largou os computadores. É viciado em telemóveis, tablets e gadgets.

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