Se fores ao Portal da Queixa e pesquisares “DIGI”, a sensação é imediata: há reclamações por todo o lado. Falhas de rede, instalações que nunca mais chegam, portabilidades falhadas, faturas estranhas, apoio ao cliente que não responde. É fácil ler isto tudo e concluir: “Pronto, a DIGI é uma desgraça. Fim de conversa.” Só que não é bem assim. Há dados, contexto e alguns pormenores incómodos (para todas as operadoras) que vale a pena perceber antes de dizer se a DIGI é “má” ou se está a viver o típico primeiro ano caótico de quem entra a fundo num mercado fechado há décadas. Vamos por partes.
Afinal, quantas queixas tem a DIGI?
Segundo o Portal da Queixa, desde que a DIGI entrou no mercado português, o número de reclamações na categoria das operadoras low-cost disparou. Em relatórios recentes, citados por meios como a APDC e a revista Sábado, o Portal da Queixa revela que:
- em poucos meses, foram registadas quase 2 800 reclamações só na categoria das operadoras low-cost;
- cerca de três em cada quatro dessas queixas eram direcionadas à DIGI (à volta de 75%).
- Ou seja, dentro do “universo low-cost”, a DIGI é claramente o alvo principal das reclamações.

Quando se olha para os motivos apontados pelos utilizadores, o padrão repete-se:
- falhas ou interrupções prolongadas de serviço;
- problemas na ativação ou instalação;
- dificuldades na portabilidade de números;
- erros de faturação e dúvidas sobre valores cobrados;
- frustração com o atendimento ao cliente (respostas tardias ou pouco úteis).
Traduzindo: a maior parte das queixas não é sobre “coisinhas pequenas”, mas sobre aquilo que as pessoas sentem no dia a dia. Ou seja, se têm rede, se a instalação acontece, se a fatura bate certo.
Porque é que a DIGI aparece com tantas reclamações?
A seguir à lista de queixas vem a pergunta óbvia: “se tem tanta reclamação, não presta?”. Antes disso, convém perceber o contexto.
1. Crescimento brutal em tempo recorde
Vários meios económicos, como o ECO, têm mostrado o impacto da DIGI: em menos de um ano, a operadora passou de zero a centenas de milhares de clientes em Portugal, somando centenas de milhares de serviços móveis e fixos.
Quanto mais rápido cresce uma operadora:
- mais pedidos de instalação há ao mesmo tempo;
- mais probabilidade existe de a rede ficar sobrecarregada em certas zonas;
- mais gente se irrita quando algo falha… e corre para o Portal da Queixa.
2. A “herança” da NOWO
Outro ponto essencial: a integração da carteira de clientes da NOWO na DIGI.
O próprio Portal da Queixa, citado pela APDC e pela Sábado, destaca que foi precisamente na fase de migração NOWO → DIGI que as queixas atingiram os picos mais altos.
O que é que aconteceu nessa altura?
- clientes que, de um dia para o outro, passaram a ser da DIGI sem terem escolhido;
- portabilidades mal geridas, com números em “limbo”;
- falhas prolongadas de serviço em casa;
- dúvidas sobre condições contratuais e preços.
Isto criou um efeito bola de neve: clientes irritados + transição mal digerida = enxurrada de reclamações públicas.
3. Rede própria ainda em construção
A DIGI entrou em força com uma aposta clara: preços agressivos e rede própria, em vez de depender sempre das redes das rivais. A longo prazo, isto pode ser positivo, mas no curto prazo traz efeitos colaterais:
- zonas urbanas com boa cobertura;
- outras zonas, sobretudo fora das grandes cidades, com mais falhas, buracos de rede e instabilidade;
- maior vulnerabilidade quando há grandes incidentes (apagões, falhas em nós centrais, etc.).
No famoso apagão das comunicações que afetou várias operadoras, a Sábado lembra que a DIGI foi uma das que mais demorou a recuperar, o que se refletiu em centenas de queixas num espaço de poucas horas no Portal da Queixa.
E o que diz a ANACOM sobre a DIGI?
Os dados do Portal da Queixa são importantes, mas não são o único barómetro. Também o regulador das comunicações, a ANACOM, já tem a DIGI bem visível nas estatísticas.
Num relatório recente, a ANACOM indica que:
- no primeiro trimestre de 2025, a DIGI acumulou cerca de 1,1 mil reclamações;
- isto representa aproximadamente 7,6 reclamações por cada mil clientes;
- e já cerca de 6% do total de queixas do setor, apesar de ser uma operadora recente.
Ou seja:
ainda não é a líder absoluta de reclamações em valor total (porque MEO, NOS e Vodafone continuam a ter mais clientes);
mas, em reclamações por cliente, a DIGI aparece logo com um valor respeitável para alguém que acabou de chegar ao mercado.
A mensagem da ANACOM é clara: a DIGI está a mexer com o mercado… e também com o nível de problemas reportados.
Muitas queixas = má operadora? Nem sempre.
Aqui está o ponto em que convém respirar fundo. Os números assustam, sim. Mas é preciso separar três coisas:
- Problemas reais (e há vários).
- Efeito de crescimento (muita gente em pouco tempo, mais ruído).
- Expectativas dos consumidores (quem muda para low-cost quer que tudo funcione na perfeição… a metade do preço).
O que está objetivamente mal
Pelos relatos no Portal da Queixa e pelos dados públicos, há áreas onde a DIGI tem de melhorar, ponto final:
- Qualidade de rede irregular em várias zonas e momentos do dia;
- Instalações e portabilidades com falhas e atrasos acima do aceitável;
- Atendimento ao cliente que não acompanha o volume de pedidos e reclamações.
Isto não é “normal” só porque a operadora é nova é mesmo um problema de operação que a marca vai ter de resolver se quiser manter a confiança de quem aderiu pelo preço.
O que é “normal” num primeiro ano de disrupção
Por outro lado, há coisas que, gostemos ou não, são típicas de um player que entra a fundo:
- Crescimento muito rápido = mais instalações = mais margem para falhas.
- A migração da NOWO foi um “caso especial” que inflacionou o número de críticas.
- A DIGI está sob holofote constante: tudo o que corre mal com a marca é notícia, tudo o que corre mal com outros operadores é “mais um caso”.
É por isso que olhar apenas para o número bruto de queixas pode ser enganador.
Vale a pena aderir à DIGI com tantos relatos negativos?
A pergunta que interessa ao leitor é esta, não os gráficos: com tudo isto, vale a pena aderir ou não?
A resposta honesta é: depende do teu perfil, da tua zona e da tua tolerância ao risco.
Quando pode fazer sentido apostar na DIGI
Pode ser uma boa opção se:
- na tua zona tens amigos ou vizinhos com DIGI satisfeitos com a cobertura e a estabilidade;
- queres reduzir significativamente a fatura de comunicações;
- valorizas o facto de muitos pacotes terem pouca ou nenhuma fidelização – se correr mal, não ficas preso três anos.
A verdade nua e crua
A verdade sobre as queixas da DIGI é esta:
Há mesmo muitos problemas reais não é só “hate” nas redes sociais. O Portal da Queixa e a ANACOM confirmam que a entrada da DIGI veio acompanhada de um aumento claro de reclamações. Parte disso vem de crescimento rápido e da integração da NOWO; outra parte é pura falha operacional que a marca tem de resolver. Mas a outra metade da história é esta: a DIGI continua a conquistar clientes. Para além disso obriga as operadoras tradicionais a mexer em preços e ofertas e dá ao consumidor algo que quase não existia em Portugal: alternativas low-cost sem fidelização pesada. No fim, a decisão é tua.
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