O café mais caro vem do “cocó” de um animal mas é mesmo especial?

Há luxos estranhos… e depois há café feito de cocó. Sim, leste bem. O café mais caro do mundo, chamado kopi luwak, nasce do intestino de um pequeno mamífero do Sudeste Asiático, o civeta-de-palmeira. E agora, um grupo de cientistas indianos decidiu perceber porque é que este “café do cocó” custa mais de mil euros por quilo. Spoiler: a ciência confirma é mesmo diferente, mas há um lado sombrio nesta história que ninguém te conta.

O segredo está no intestino do civeta

Tudo começa quando o pequeno civeta (ou Paradoxurus hermaphroditus, para os amigos da biologia) come os frutos maduros do café as famosas cerejas de café. No seu estômago, as enzimas e bactérias fazem uma espécie de fermentação natural. O animal não digere o grão em si, e… bom, expulsa-o intacto.

Foi há mais de um século que alguém, talvez um aventureiro, talvez um desesperado por cafeína, decidiu apanhar esses grãos nas fezes, lavá-los, torrar e provar. O resultado? Um café com aroma suave, menos ácido e sabor cremoso.

Hoje, este “ouro negro” chega a custar mais de 1000 dólares o quilo, e é servido em alguns dos cafés mais exclusivos do mundo.

A ciência confirma: é literalmente especial

Investigadores da Universidade Central de Kerala, na Índia, quiseram provar se havia mesmo base científica por trás do mito. Compararam grãos normais de café robusta com grãos vindos das fezes de civetas selvagens.

O que descobriram foi fascinante:

Os grãos “pós-civeta” eram maiores e tinham mais gordura, o que ajuda a dar o sabor encorpado.

Entretanto as proteínas e a cafeína eram praticamente iguais.

Mas o grande segredo está em dois ácidos gordos: o ácido caprílico e o ácido cáprico, que conferem um aroma mais aveludado e notas lácteas.

dura o efeito do café

Ou seja, o civeta atua como um pequeno laboratório biológico, transformando quimicamente os grãos dentro do seu intestino e dando-lhes o sabor inconfundível que os milionários adoram.

O lado negro do luxo

O problema é que o sucesso desta iguaria transformou-se num negócio cruel.
Muitos produtores começaram a capturar civetas selvagens e a mantê-las em jaulas minúsculas, obrigando-as a comer apenas cerejas de café. Sem liberdade, sem dieta natural, sem vida.

Organizações de proteção animal já denunciaram condições desumanas em várias plantações da Indonésia, Filipinas e Vietname. E o pior? Grande parte do “kopi luwak” vendido como selvagem… vem de civetas em cativeiro.

O futuro: café ético sem cocó?

Entretanto os cientistas acreditam que compreender como o civeta altera os compostos químicos pode abrir caminho a métodos éticos e sustentáveis de produção. Assim em vez de explorar animais, os produtores poderiam replicar o processo de fermentação natural em laboratório, mantendo o sabor único, mas sem sofrimento.

“Precisamos garantir sustentabilidade, práticas éticas e confiança do consumidor”, escrevem os investigadores no estudo publicado na Scientific Reports.

Então… vale mesmo o preço?

Depende. O sabor pode ser diferente, sim. Mas será que um café passado por um intestino justifica mil euros por quilo e o sofrimento de um animal?

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Bruno Fonseca
Bruno Fonseca
Fundador da Leak, estreou-se no online em 1999 quando criou a CDRW.co.pt. Deu os primeiros passos no mundo da tecnologia com o Spectrum 48K e nunca mais largou os computadores. É viciado em telemóveis, tablets e gadgets.

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