Imagina isto: tens fibra rápida, tudo a funcionar bem… até chega a noite. De repente, os vídeos demoram a carregar, as chamadas travam e o ping dispara. A culpa pode não ser “da tua Internet” mas sim de algo que quase ninguém fala: o traffic shaping. E sim, ele ainda existe. Descobre agora mesmo se estão a cortar-te na Internet e até podes apresentar queixa, caso isso se verifique.
O que é afinal o traffic shaping
De forma simples, traffic shaping é quando um operador decide o que passa primeiro na tua ligação. Em vez de tratarem todo o tráfego por igual, eles limitam, atrasam ou priorizam certos tipos de dados.
Exemplo:
- Queres ver Netflix? Ok.
- Queres usar VPN, jogar online ou fazer download pesado? Aí já não é tão rápido.
Isto é feito para evitar congestionamentos mas quando é abusivo, fere a neutralidade da Internet, o princípio que diz que todos os dados devem ser tratados de forma igual, sem favoritismos.
É legal cortar na Internet em Portugal?
Depende. Segundo a ANACOM e o regulamento europeu sobre neutralidade da rede (BEREC):
Operadores podem gerir o tráfego em situações excecionais (por exemplo, evitar colapso da rede ou ataques). Mas não podem discriminar permanentemente certos serviços, apps ou protocolos (como VPNs, torrents, streaming, etc.). Se o fizerem, é considerado violação da neutralidade da rede e pode ser alvo de reclamação formal à ANACOM.
Em resumo:
- Pode haver gestão temporária e transparente.
- Não pode haver limitação sistemática escondida.
Como saber se o teu operador está a “estrangular” a Internet
Há vários sinais e formas de testar se o teu ISP (Vodafone, MEO, NOS, DIGI, etc.) está a aplicar traffic shaping:
A tua Internet abranda à noite ou aos fins-de-semana? Horas de pico são o momento típico em que operadores aplicam gestão agressiva.
Certos sites ou apps ficam lentos (VPN, streaming, jogos online)? Se apenas um tipo de tráfego é afetado, há motivo para suspeitar.
Testes mostram latência irregular ou perda de pacotes Usa ferramentas como: ping e traceroute (ou tracert no Windows), mtr (para ver onde o atraso começa) e sobretudo o NET.mede da ANACOM. Isto proque tem um teste específico de traffic shaping que gera um relatório oficial.
Comparação entre redes
Faz o mesmo teste via hotspot móvel (4G/5G). Se aí tudo estiver fluido, o problema vem do teu operador fixo.
Repetibilidade. Testa em diferentes dias e horários. Se o problema se repete sempre nas mesmas horas, tens padrão.
Como provar e reclamar
Se suspeitas de traffic shaping, faz o seguinte:
- Guarda evidências: prints dos testes, datas, horas, resultados NET.mede.
- Contacta o operador: pede explicação técnica e confirma se existe “gestão de rede” ativa.
- Se a resposta for vaga ou evasiva, abre reclamação formal à ANACOM através do portal ou e-mail.
- Anexa os relatórios NET.mede e explica os sintomas.
A ANACOM pode pedir esclarecimentos ao operador e publicar resultados em relatórios públicos.
Por que isto é grave
O traffic shaping afeta mais do que pensas. Logo à partida pode reduzir a qualidade das chamadas de trabalho remoto. Ao mesmo tempo interromper streamings ou videojogos online. Por fim pode distorcer a tua perceção da velocidade contratada porque o problema não é a largura de banda, é a prioridade que o operador dá ao teu tráfego. Em última análise, estás a pagar por um serviço que não recebes na totalidade.
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