Viajo muito, aliás, nos últimos tempos ando a pensar que viajo demasiado. Seja para ver carros, tecnologia ou feiras internacionais sobre tudo e mais alguma coisa, o Aeroporto de Lisboa tornou-se quase a minha segunda casa.
Dito tudo isto, com tantas idas e voltas, há algo que se repete com a mesma consistência dos voos atrasados da TAP, autocarros para entrar ou sair de um avião, ou das filas na segurança para ir para o embarque. Estou a falar dos pedintes profissionais.
Já encontrou algum?
Os mendigos profissionais. Um fenómeno que já faz parte do nosso dia-a-dia?
Portanto, num mundo em que há sempre alguém a tentar enganar outro alguém, seja online ou offline, algo saltou-me à vista.
Não falo de alguém em apuros pontual, falo de quem transformou o pedir em profissão.
Uma pessoa que está sempre no mesmo sítio, à mesma hora, com a mesma frase. Aliás, acredito que esta pessoa está naquele “posto” mais de 8 horas por dia, sendo exatamente por isso que gosto de a chamar por “Mendigo Profissional“.
Mais concretamente, junto às máquinas de pagamento do parque de estacionamento do aeroporto, onde chego sempre cansado e com fome, eis que aparece “alguém” a perguntar
- “Consegue dar-me uma moedinha? É para comer”.
Sabe o mais curioso? É sempre a mesma pessoa.
Aliás, a fazer bem as contas, este ano já devo ter passado pelo aeroporto de lisboa mais de trinta vezes. E dessas trinta vezes, ele esteve sempre lá. O mesmo tom, a mesma postura, o mesmo ar de quem “acabou ali por acaso”, e que está a passar por um mau bocado.
No início, confesso, ainda me deixava levar pelo impulso. É uma moeda, não custa nada. É para ajudar. Mas com o tempo, o gesto muda. Já vi amigos meus, quem normalmente me vai buscar ao aerorporto de forma a evitar a confusao dos TVDE, que antes davam sempre, e agora passam com um simples olhar vazio.
Porque percebem que já não é um acaso, é rotina.
Esta não é a primeira vez que me deparo com um “mendigo profissional”. Nos tempos de faculdade, quando tinha de arrumar o carro na rua caótica logo ao lado da FCUL, também existia uma pessoa que estava ali todos os dias, quase sempre mais que as típicas 8 horas, a ajudar a encontrar um “espacinho” para o automóvel.
Mais tarde fiquei a saber que tinha casa, família, e até filhos a andar na faculdade. O “emprego” fazia a diferença.
É um fenómeno estranho, este. O de tornar a compaixão automática em indiferença programada. A pessoa que pede já não desperta empatia, desperta reconhecimento. E não no bom sentido. É como ver um funcionário do aeroporto que nunca muda de turno.
Depois tudo isto levanta outras questões. Como é que num espaço como o aeroporto, com tanta segurança e vigilância, isto passa despercebido? Passa ao lado?
E tu? Já foste ao aeroporto, ou um outro sítio qualquer, e reparaste também que, enquanto o mundo inteiro passa por ali, há quem nunca saia do mesmo lugar?
Precisamos dos nossos leitores. Segue a Leak no Google Notícias e no MSN Portugal. Temos uma nova comunidade no WhatsApp à tua espera. Podes também receber as notícias do teu e-mail. Carrega aqui para te registares É grátis!