Já te aconteceu ouvir um som e, de repente, sentires um arrepio, um nó na garganta ou até vontade de chorar sem perceberes porquê? Pois não és o único. A ciência acaba de confirmar que determinadas frequências sonoras podem ativar reações emocionais profundas no cérebro humano e nem precisas de saber o que estás a ouvir para que isso aconteça. Não é magia, nem hipnose. É neurociência auditiva no seu estado mais puro.
O som que mexe com o cérebro
Um grupo de investigadores da Universidade de Genebra conduziu experiências com dezenas de voluntários para perceber como o cérebro reage a sons específicos. Ao reproduzirem certas frequências entre 20 e 60 hertz, abaixo do limiar normal da audição humana, os cientistas notaram reações emocionais intensas: arrepios, ansiedade, melancolia e até lágrimas.
Essas vibrações, chamadas infrassons, não são realmente ouvidas, são sentidas.
O corpo capta-as através de vibrações internas, e o cérebro interpreta-as como uma emoção forte, mesmo sem saber o porquê.

A emoção sem contexto
O mais curioso é que não é preciso haver música, letra ou recordação associada.
O som em si basta. Estas frequências mexem com as mesmas regiões cerebrais que processam o medo, a empatia e a tristeza o sistema límbico, a amígdala e o córtex pré-frontal.
Ou seja, o cérebro reage como se algo muito intenso estivesse a acontecer, mesmo que estejas apenas numa sala silenciosa com uma coluna a vibrar.
O cinema e o “som fantasma”
Hollywood já sabia disto há muito tempo, mesmo sem entender totalmente o mecanismo.
Filmes de terror e suspense usam infrassons escondidos nas bandas sonoras para criar desconforto. Aquela sensação de “algo está prestes a acontecer” vem muitas vezes dessas notas graves que mal se ouvem, mas que fazem o coração acelerar.
O som faz o corpo tremer, o cérebro interpreta como medo, e de repente estás a segurar a almofada como se fosse um escudo.
Por que faz chorar?
As lágrimas são uma resposta física a emoções profundas, alegria, dor, medo ou empatia.
Mas quando o estímulo é apenas sonoro, os cientistas acreditam que as frequências graves ressoam com os batimentos cardíacos e o ritmo respiratório, criando uma sensação corporal semelhante à de um momento emocional real. O cérebro “confunde-se” e liberta dopamina, adrenalina e, em alguns casos, lágrimas.

É quase uma forma de sinestesia emocional sentir em vez de compreender.
A música que cura (ou desarma)
Curiosamente, o mesmo fenómeno pode ser usado de forma positiva. Certas notas especialmente as que se situam entre 432 e 528 hertz estão associadas a sensações de harmonia e calma, sendo usadas em terapias sonoras e técnicas de relaxamento.
Os cientistas chamam-lhe “resonância emocional”, e há estudos a mostrar que estas frequências podem reduzir o stress e baixar a pressão arterial.
Ou seja, o som que te pode fazer chorar também pode curar.
