Fui votar esta manhã, como milhões de pessoas em todo o país. A escola estava cheia, o ambiente calmo, e até havia quem aproveitasse para tirar aquela selfie discreta à porta. Tudo normal até que reparei num pormenor estranho. À entrada, dois homens distribuíam panfletos com o logótipo de uma suposta associação cívica. Pareciam voluntários, bem-dispostos, diziam que era “só para recolher assinaturas de apoio a um novo movimento social”. O discurso era convincente, o papel tinha aspeto oficial e havia até um QR code para “saber mais”. Mas bastou olhar com atenção para perceber que algo não batia certo.
O golpe começa com um sorriso e um papel na mão
Muitos eleitores, especialmente pessoas mais idosas, aproximavam-se com curiosidade. “É só uma assinatura?”, perguntavam. Os falsos voluntários pediam também o número do Cartão de Cidadão, o NIF e até a data de nascimento. Tudo em nome de uma suposta “base de apoio cívico”.

Na prática, trata-se de uma burla clássica de recolha de dados pessoais, que pode depois ser usada para abrir contas bancárias falsas, pedir créditos rápidos ou até criar perfis políticos em nome de outras pessoas.
É um golpe antigo, mas volta sempre em alturas de eleições quando há muito movimento à porta das escolas e um ambiente de confiança que os burlões aproveitam.
“Assine aqui, é para ajudar a comunidade”
O truque está no tom. Nunca são agressivos, nunca pedem dinheiro. Falam com calma, usam termos como “cidadania”, “participação” ou “apoio social”, e isso desarma as pessoas.
Em poucos segundos, consegues estar a entregar dados que deviam ser confidenciais, sem sequer te aperceberes.
Há relatos de panfletos com logótipos falsos da Segurança Social, das Juntas de Freguesia e até de partidos políticos todos com o mesmo objetivo: recolher informações de forma fraudulenta.

O que os panfletos pedem (e nunca deviam pedir)
Se te acontecer hoje, repara nos detalhes:
- Pedem nome completo, número de CC, NIF ou morada;
- Têm QR codes que redirecionam para sites suspeitos;
- Ou pedem para assinar algo sem explicação clara.
Nenhuma entidade oficial recolhe dados à porta das escolas. Nem autarquias, nem Segurança Social, nem partidos tudo o que for oficial está identificado dentro da assembleia de voto, e nunca no exterior.
Como te protegeres (e avisar os outros)
Não aceites panfletos nem assines nada fora do recinto de voto.
Evita partilhar dados pessoais mesmo que pareça algo “inofensivo”.
Se fores abordado, recusa educadamente e entra logo na escola.
Avisa os membros da mesa eleitoral ou a PSP/GNR se notares comportamento suspeito.
Se já entregaste dados, faz queixa na polícia e contacta o Portal do Cidadão para alertar possível fraude.
O que vi depois
Minutos depois, um dos “voluntários” desapareceu discretamente quando um agente da PSP se aproximou da zona. As pessoas à volta ficaram confusas — umas ainda com o panfleto na mão, outras a dizer “pensei que era coisa da junta”. É exatamente assim que estas burlas funcionam: à vista de todos, com ar de normalidade.
Entretanto a Comissão Nacional de Eleições (CNE) e a PSP têm vindo a alertar para este tipo de práticas. Qualquer recolha de dados ou propaganda feita dentro ou nas imediações das escolas é ilegal. Se vires algo do género, podes comunicar à CNE através do site oficial ou diretamente às autoridades locais.
Votar é um direito, mas também um momento em que muitos tentam aproveitar a distração das pessoas. Por isso, hoje e em qualquer eleição não assines nada, não partilhes dados, e avisa quem conheces.
Um simples “não, obrigado” pode ser o que te salva de uma burla.
