Há notícias que nos deixam com um aperto no peito. A morte súbita de uma criança de 7 anos, futebolista, em campo. Atletas jovens, aparentemente saudáveis, que caem sem aviso. Adultos que partem cedo demais por um ataque cardíaco inesperado. Cada vez que isto acontece, a mesma dúvida instala-se: e se houvesse um desfibrilhador ali por perto ou até em casa? Teria feito a diferença?
A verdade é dura: o coração pode falhar sem dar sinais prévios, e quando falha, cada minuto conta. É por isso que vemos desfibrilhadores automáticos externos (DAE) espalhados por estádios, aeroportos, centros comerciais. Mas fica a pergunta: faria sentido termos um também em casa, como temos um extintor ou um kit de primeiros socorros?
O que faz um desfibrilhador afinal?
O desfibrilhador não é magia, é ciência pura. Quando o coração entra em fibrilhação ventricular (um ritmo caótico, incompatível com a vida), a única forma de o recuperar é aplicar um choque elétrico.
E não, não é coisa de médicos apenas. Os DAE foram criados para que qualquer pessoa consiga usar, com instruções por voz que dizem quando colocar as pás e se é necessário aplicar o choque.
Cada minuto sem desfibrilhação = menos 10% de hipóteses de sobrevivência. Ao fim de 10 minutos… quase ninguém resiste.
Mas e nas crianças?
A morte súbita em crianças e adolescentes é rara, mas quando acontece costuma estar ligada a problemas hereditários ou malformações do coração que passam despercebidos em exames normais. Nestes casos, um desfibrilhador pode ser literalmente a diferença entre a vida e a morte. Mas atenção: em crianças muito pequenas, são necessárias pás e modos adaptados, sob orientação médica.
Faz sentido ter um desfibrilhador em casa??
Aqui entram os dois lados da balança:
Os argumentos a favor:
- Pode salvar vidas em famílias com histórico de problemas cardíacos.
- Garante resposta imediata em situações onde a ajuda pode demorar a chegar.
- Funciona mesmo sem treino médico — qualquer pessoa pode seguir as instruções.
Os argumentos contra:
- O custo não é baixo: entre 800 € e 1.500 €, mais manutenção.
- Para a maioria das famílias, o risco de precisar dele é muito baixo.
- Em muitos casos, saber fazer compressões torácicas é tão ou mais importante que ter o aparelho.
O que dizem os especialistas
Os cardiologistas são claros: os desfibrilhadores fazem todo o sentido em locais públicos, clubes desportivos e escolas. Quanto mais espalhados estiverem, mais vidas se salvam.
Já em casa, só é recomendado em famílias com histórico de doenças cardíacas graves ou morte súbita. Nestes casos, pode ser o médico a aconselhar a compra, até com modelos adaptados a crianças.
Alternativas reais para todos

Ter um DAE em casa pode não ser viável para a maioria, mas há três passos que todos podemos dar:
Aprender suporte básico de vida (SBV) – saber fazer compressões torácicas é o maior salva-vidas que podes ter em casa.
Exigir desfibrilhadores em escolas e clubes desportivos – especialmente onde há jovens atletas.
Rastreio médico preventivo – um simples eletrocardiograma pode detetar arritmias ou problemas invisíveis.
Ter ou não ter?
Não, não faz sentido que todos tenhamos um desfibrilhador na sala ao lado da televisão. Mas sim, faz todo o sentido que esta conversa aconteça. Porque se há algo que estas notícias trágicas nos ensinam é que o coração não avisa e quando falha, o tempo é tudo.
Ter um DAE em casa pode ser exagero para a maioria, mas ter mais desfibrilhadores em locais públicos e mais pessoas treinadas em primeiros socorros devia ser regra, não exceção. Talvez assim, a próxima história de um colapso súbito não termine em tragédia.
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