Se achas que o comando da tua televisão serve apenas para mudar de canal ou carregar no “play”, pensa outra vez. A verdade é que o objeto mais banal da sala de estar, o comando da TV, transformou-se num dos maiores campos de batalha do mundo digital. E não, não estamos a falar só de pilhas que acabam sempre na hora errada. Estamos a falar dos botões coloridos que já vêm de fábrica a apontar para plataformas como Netflix, Disney+, Prime Video ou YouTube. Parece apenas conveniência, mas na prática é publicidade disfarçada. De facto esses botões no comando de TV valem milhões!
De onde veio esta ideia?
Na década de 1950, quando o primeiro comando remoto apareceu, o objetivo era simples: evitar que tivesses de te levantar do sofá para mudar de canal. Era um luxo, um símbolo de modernidade.
Entretanto com o tempo, o comando passou de simples acessório a objeto cultural. Sociológos até estudaram como as famílias discutiam quem ficava com ele. O famoso “dono do comando” era, muitas vezes, o verdadeiro chefe da casa.
Mas agora o jogo mudou. O comando já não é só sobre conforto. Trata-se de dinheiro, influência e manipulação de hábitos de consumo.
Os botões que não são inocentes
Já reparaste que quase todos os comandos modernos têm atalhos diretos para serviços de streaming pagos? Esses quadrados coloridos não estão lá por acaso. Assim são resultado de contratos milionários entre fabricantes de televisões e plataformas digitais.
Na prática, cada botão é um anúncio permanente, colado no objeto que usas todos os dias.
Quanto custa estar no teu comando?
O negócio é gigante. Só para dar um exemplo: em 2019, a Roku (plataforma de streaming americana) cobrava 1 dólar por botão em cada comando vendido a marcas como Netflix, Hulu, YouTube e Showtime.
Parece pouco? Agora faz as contas: se em 2025 a Roku tiver 90 milhões de clientes, estamos a falar de 360 milhões de dólares apenas com botões. Isso sem contar com os anúncios que aparecem no menu da própria TV.
É ou não é um negócio da China?
Quem perde com isto?
À primeira vista, até parece positivo. Afinal, tens acesso mais rápido às tuas plataformas favoritas. Mas há um lado sombrio:
Os pequenos serviços ficam de fora. Se uma plataforma local de streaming português quiser competir, não tem hipótese de pagar o mesmo que a Netflix.
A tua escolha é condicionada. Se tens o botão da Disney+ mesmo à tua frente, é natural que cliques mais vezes.
Os conteúdos gratuitos perdem espaço. Serviços abertos, que não exigem subscrição, acabam escondidos.
Na prática, quem manda no comando… manda também no que tu consomes.
Investigadores soaram o alarme
Em 2023, uma investigação feita na Austrália mostrou que este modelo dava tratamento preferencial às grandes plataformas globais, como Netflix, Prime Video, Disney+ e YouTube. Na Europa, tanto a União Europeia como o Reino Unido já abriram inquéritos para perceber se existe concorrência desleal.
A conclusão é simples: os comandos estão a tornar-se mais valiosos do que os próprios catálogos de conteúdos.
A resposta: botões para “TV grátis”
Perante esta pressão, começaram a surgir propostas para equilibrar o jogo. Alguns legisladores defendem que os fabricantes deviam ser obrigados a incluir botões para conteúdos gratuitos e locais.
Exemplo? A Google já lançou comandos com um botão “Free TV” que abre um catálogo com mais de 150 canais gratuitos.
Entretanto não é altruísmo. Assim é também uma tentativa de ganhar a simpatia dos consumidores que estão cada vez mais fartos de pagar por dezenas de subscrições.
O que isto significa para ti
Pode parecer um detalhe insignificante, mas cada vez que pegas no comando da tua TV, há uma luta invisível a acontecer. As grandes plataformas estão a disputar o teu primeiro clique.
E esse primeiro clique vale ouro, porque dita para onde vais gastar tempo… e dinheiro.
Da próxima vez que olhares para aqueles botões coloridos no teu comando, lembra-te:
Não estão ali para facilitar a tua vida.
Estão ali porque alguém pagou e caro para manipular o teu comportamento.
O simples gesto de carregar num botão pode estar a afastar-te de alternativas locais, gratuitas ou independentes.
No fundo, o comando da TV tornou-se um campo de batalha silencioso entre gigantes tecnológicos. E nós, sem percebermos, somos as peças do jogo.
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