Durante anos, ouvimos dizer que os carros estavam cada vez mais baratos, mais eficientes, e claro, mais seguros. Mas hoje, quem tenta comprar um carro novo de segmento B ou até do segmento A, percebe que o cenário mudou, e não foi pouco.
Há modelos que “antigamente” custavam 16 ou 17 mil euros, agora já andam à volta dos 25 mil. É uma subida muito significativa, que não está apenas relacionada com a inflação e a consequente subida do preço dos materiais. Aliásm, nem estamos a falar de versões topo de gama. Estamos a falar de versões base, que deviam ser… acessíveis.
O motivo? As regras mudaram, e o foco na segurança é outro.
A segurança agora é obrigatória (e paga-se bem)
A União Europeia decidiu tornar obrigatórios vários sistemas de assistência à condução em todos os carros novos a partir de julho de 2024. Coisas como travagem automática de emergência, assistente de velocidade inteligente, deteção de fadiga, alerta de desvio de faixa, entre outros. Tecnologias importantes, sim. Mas que até aqui estavam reservadas a gamas médias e altas.
Tecnologias que têm um preço que “alguém” tem de pagar. Esse alguém é você.
Ou seja, até o citadino mais básico tem que vir carregado de sensores, câmaras e software. Resultado? Um aumento direto no preço final do carro, que em muitos casos ultrapassa os 10 mil euros face à geração anterior.
Carros de entrada que já não o são
Modelos como o Renault Clio, o Peugeot 208, o Opel Corsa ou até o Dacia Sandero são exemplos claros desta nova realidade. Versões que antes eram pensadas para o “carro do dia-a-dia”, para o primeiro carro de um jovem ou o segundo carro da família, agora atingem preços que encostam a rivais de segmentos superiores.
Claro que, em muitos casos, mesmo com todo o equipamento obrigatório, continuam a vir com motores fracos, interiores espartanos e sem grandes luxos.
Isto muda o jogo, e transforma o mercado. Se a gama baixa aumenta, tudo tem de aumentar na mesma proporção.
Segurança sim, mas e a escolha?
Ninguém discute a importância da segurança. Mas quando uma medida bem-intencionada elimina por completo a margem de escolha e empurra os consumidores para modelos cada vez mais caros, o sistema está obviamente a falhar. Os carros estão melhores… mas estão a deixar de ser para todos.
O que acaba por empurrar os consumidores para veículos usados, por vezes muito velhos e cansados. Aliás, por vezes… Exaustos. Ou seja, ganhamos segurança por um lado, e perdemos pelo outro. Porque estes usados não trazem nada destas “novidades”.
Depois admiram-se que a idade média do parque automóvel em Portugal esteja a aumentar.
As tecnologias de segurança são uma vitória da engenharia moderna, mas a forma como foram implementadas está a empurrar milhões de europeus para fora do mercado automóvel novo. E tudo isto num contexto onde também os carros elétricos, supostamente o futuro acessível, continuam longe das carteiras da maioria.